27 de março de 2010

Bom Domingo para todos


Queridos Amigos e Leitores!
Estou muito ocupado a ajudar um filho em mudanças:
Perdoem que seja menos assíduo aqui,
nestes momentos que partilho convosco
e, também, nas visitas que, com enorme deleite,
costumo fazer aos vossos espaços,
durante as próximas semanas,
duas, talvez três, serão uma eternidade,
se pensar na falta que me fazem!

Mas... o que é isso, comparado com a alegria de ajudar um filho?
Prometo que, sempre que me for possível, virei, pelo menos,
ESPREITAR!
... e, entretanto, espero deixar-vos em boa companhia!




24 de março de 2010

coroai-me de rosas

Coroai-me de rosas;
Coroai-me em verdade
     De rosas -
Rosas que se apagam
Em fronte a apagar-se
     Tão cedo!
Coroai-me de rosas
E de folhas breves. 
       E basta.



Fernando Pessoa / Ricardo Reis
Imagem: Google Imagens
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21 de março de 2010

vidas primaveris


amanheceu
crivado de andorinhas,
o céu azul do meu jardim:
voo picado sobre
as árvores, quietas,
de calma e paciente esperança!


as viajantes tardaram,
mas cá estão,
de novo, à disputa
da melhor estalagem,
o melhor ramo,
mais folhado e recatado,
para a materna missão!

 

e o meu jardim,
florido, embora,
dividiu as atenções do dia:



de flores se enfeita o céu mas,
de vida transbordam os ninhos!



Imagens: Google Imagens

20 de março de 2010

maria campaniça (homenagem às ceifeiras)


Debaixo do lenço azul com sua barra amarela
os lindos olhos que tem!
Mas o rosto macerado
de andar na ceifa e na monda
desde manhã ao sol-posto,
mas o jeito
das mãos torcendo o xaile nos dedos
é de mágoa e abandono...
Ai Maria Campaniça,
levanta os olhos do chão
que eu quero ver nascer o sol!

Manuel da Fonseca (Santiago do Cacém, 1911-1993)


     Imagens: Google Imagens

17 de março de 2010

sonhando acordado

Tarde perdida
nos dias, sem dia:
incerto algarismo na conta
incontável,dos dias
perdidos,
sem tardes...

Gesto sumido
no vago, num dia
incerto,
dos dias, sem tardes
perdidas...

oh, dias ausentes, de presença!
  - um dia?!

Foto: Olhares da Gui
 

15 de março de 2010

canção

Sol nulo dos dias vãos,
Cheios de lida e de calma,
Aquece ao menos as mãos
A quem não entras na alma!

Que ao menos a mão, roçando
A mão que por ela passe,
Com externo calor brando
O frio da alma disfarce!

Senhor, já que a dor é nossa
E a fraqueza que ela tem,
Dá-nos ao menos a força
De a não mostrar a ninguém!


Fernando Pessoa (Lisboa, 1888-1935)
Foto "Entre Céu e Chão" in Olhares da Gui: http://olhares.aeiou.pt/entre_ceu_e_chao_foto1557488.html

12 de março de 2010

bom fim-de-semana!


O importante não é a casa onde moramos.
Mas onde, em nós, a casa mora.

(Avô Mariano) in "um rio chamado tempo, uma casa chamada terra", de Mia Couto



     Foto: "um chão que pisei" (Olhares da Ju)

11 de março de 2010

homenagem a Sebastião Alba

"Sou quem os que amo (ou detesto) pensam de mim"
  Sebastião Alba

NINGUÉM MEU AMOR

Ninguém meu amor
ninguém como nós conhece o sol
Podem utilizá-lo nos espelhos
apagar com ele
os barcos de papel dos nossos lagos
podem obrigá-lo a parar
à entrada das casas mais baixas
podem ainda fazer
com que a noite gravite
hoje do mesmo lado
Mas ninguém meu amor
ninguém como nós conhece o sol
Até que o sol degole
o horizonte em que um a um
nos deitam 
vendando-nos os olhos



in O Poema: Sebastião Alba
http://www.culturapara.art.br/opoema/sebastiaoalba/sebastiaoalba.html

Foto: "Lost Tracks", Ju


10 de março de 2010

a mão no arado

Feliz aquele que administra sabiamente
a tristeza e aprende a reparti-la pelos dias
Podem passar os meses e os anos nunca lhe faltará

Oh! como é triste envelhecer à porta
entretecer nas mãos um coração tardio
Oh! como é triste arriscar em humanos regressos
o equilíbrio azul das extremas manhãs do verão
ao longo do mar transbordante de nós
no demorado adeus da nossa condição
É triste no jardim a solidão do sol
vê-lo desde o rumor e as casas da cidade
até uma vaga promessa de rio
e a pequenina vida que se concede às unhas
Mais triste é termos de nascer e morrer
e haver árvores ao fim da rua


É triste ir pela vida como quem
regressa e entrar humildemente por engano pela morte dentro
É triste no outono concluir
que era o verão a única estação
Passou o solidário vento e não o conhecemos
e não soubemos ir até ao fundo da verdura
como rios que sabem onde encontrar o mar
e com que pontes com que ruas com que gentes com que montes conviver
através de palavras de uma água para sempre dita
Mas o mais triste é recordar os gestos de amanhã

Triste é comprar castanhas depois da tourada
entre o fumo e o domingo na tarde de novembro
e ter como futuro o asfalto e muita gente
e atrás a vida sem nenhuma infância
revendo tudo isto algum tempo depois
A tarde morre pelos dias fora


É muito triste andar por entre Deus ausente
Mas, ó poeta, administra a tristeza sabiamente

ruy belo (S. João da Ribeira, Rio Maior, 1933-1978)
Fotos da Gui

8 de março de 2010

nova, nova, nova, nova,

Não era a minha alma que queria ter.
Esta alma já feita, com seu toque de sofrimento
e de resignação, sem pureza nem afoiteza.
Queria ter uma alma nova.
Decidida capaz de tudo ousar.
Nunca esta que tanto conheço, compassiva, torturada
          de trazer por casa.
A alma que eu queria e devia ter...
Era uma alma asselvajada, impoluta, nova, nova,
          nova, nova!
Irene Lisboa, in os poemas da minha vida (mário soares)





7 de março de 2010

O que a memória ama, fica eterno.
Te amo com a memória, imperecível.
Adélia Prado, in "Jesusalém", de Mia Couto

6 de março de 2010

presente


eu luto
dia a dia
entre primaveras
por manter a jovialidade
 

que permite
renascer
a cada dia


como se fosse o primeiro
como se fora o último

sendo único!






Foto: "White tree" in olhares da Ju

5 de março de 2010

duas palavras?

Longe

palavra que os lábios
do coração
gritam...!

Perto

o paradoxo distância
na vida
vivida...!


2 de março de 2010

meigo amor

Que bom sorrir, com doçura
Cada aurora, ao sol nascente,
Sentindo a tua ternura
Viva, a meu lado, presente!

Cantar toda a formosura
De teu ser resplandecente,
De teu sorriso a candura
Amar, feliz e contente!

Sentir batendo no  peito,
Abrindo as asas, ao vento,
Meu coração pequenino:

Dela tomar, meigo, o jeito
E fazer-me, num momento,
em teu regaço, menino!

1 de março de 2010

ao nosso amor, um poema, hoje, cristal

Perdoem-me os meus queridos leitores e leitoras mas, neste dia em que se completam trinta e cinco anos de mútua entrega e dedicação, este jardim vai encher-se de flores para a muito amada companheira desta já longa história de AMOR: Lurdes, mais bela e amada Maria da minha vida, é para ti todo o amor e carinho que conseguir deixar transparecer deste canteiro!

Um dia, já distante mas, cada dia mais presente, uma linda flor, roubou o meu coração como, então, deixei nesta singela (ao jeito dos poetas medievais...?)

CANTIGA DE AMOR

Mote

A flor que vi em botão
roubou o meu coração!

Glosa

Já findava a Primavera,
de mim, tão querida estação,
flor que parecia quimera
subindo, em mim, como hera,
assaltou meu coração!

Das mais belas cores vestida,
logo em si achei prisão:
encheu toda a minha vida,
ao meu amor deu guarida
e dei-lhe o meu coração.

Seus olhos verdes, de esperança,
Mais me acenderam paixão:
p'ra si foi toda a confiança,
jamais quis outra lembrança
- é seu o meu coração!

Na felicidade de amar
pensei: seria ilusão?
Mas, quando a si me fui dar
- oh, como é doce lembrar! -
aceitou meu coração!

Hoje, é tudo para mim,
na minha, tem sua mão
- quão feliz eu sou assim!
Flor mais bela que um jardim
roubou o meu coração!


E, assim, comecei a cantar, crescendo de amor e carinho, à "Menina dos olhos verdes":
Dedicatória

Ó flor mais bela do jardim florido,
Botão singelo que meus olhos prende:
A ti dedico um poema sentido
Que, só por tudo não dizer, te mente!

Soneto

Menina dos verdes olhos,
Mais verdes que a tenra folha:
Cuidados encontra, aos molhos
Quem, neles preso, te olha!

As tuas faces rosadas,
Brilhantes, qual sol nascente,
Com sorrisos, de mãos dadas,
Te fazem estrela luzente!

Teu andar é gracioso,
Leve, de ave saltitante,
Teu cabelo oh!, quão formoso!

Mas Lourdes, por mais que eu cante
Tua beleza, ditoso,
Sei bem lhe fico distante!


Foram tantos os escolhos em nosso caminho! Porém o amor, que tudo vence, foi semente, também e frutificou, por quatro vezes, no nosso ninho!
Quatro amores tanto ou mais lindos, ainda, que o nosso, porque dele se alimentando, fizeram de ti a mamã mais querida e babada do mundo!
Ainda falando "apenas" por seus olhos e sorrisos, tentei dar-lhes algumas palavras, para ti, em dias mais lembrados:
 
MAMÃ
Teus olhos,
teu sorriso
Mamã, teus cabelos ao vento,
teus braços,
berço feito,
teus cuidados
Mamã:
ternura, carinho, Amor
Mamã!
Tu, minha vida,
és tudo para mim!
porque te tenho,
Mamã,
sou,
sou feliz,
sou o ser mais rico do mundo:

SIM, MAMÃ!


Houve momentos de ausência, dias de saudade sem fim que, em cada minuto, foram cimentando este amor feito vida: então, continuei cantando, mesmo quando eram lágrimas meus versos:
 Sempre te via, como em sonhos, perto,
Meu pensamento anulava o distante:
Era teu rosto, belo, estou bem certo
mas, não sorria, nem mesmo um instante!

Tudo era triste, meu viver incerto:
Ave sem poiso, coração errante,
Eu e saudade, juntos, um deserto
- Só a esperança vivia, constante!

Mas, pois voltaste, meu peito vibrante
Em si não cabe, voa, ao longe, aberto:
Encontrou a luz, qual Sol, do Levante!

Mulher formosa, por bem que te cante,
Meu coração diz pouco, decerto:
Teu sorriso é VIDA, ó estrela brilhante!


A vida, essa, testou-nos amiúde, curiosa da nossa capacidade de resistir: foram momentos de sofrimento, solidão, ausência sentida, pressentida, (consentida?)... mas passado que, feito presente, nos projectou para o futuro que, hoje, celebramos, entre a alegria do vivido e a vontade de viver, na eternidade possível!



Que importam as lindas flores,
As aves voando ao céu?
Que importa o Sol, as estrelas,
Se tudo o que é belo, é teu?

Que importam rios ou fontes,
Tudo o que a terra nos deu:
Frutos ou peixes dos mares,
Se és tu, só, o encanto meu?

Tu és mais que flor ou ave,
Que o Sol, a Lua, as estrelas,
Mais que o próprio azul do céu:

Mais do que, em palavras, cabe,
Tanto mais digam e, belas:
És DONA, amor, do amor meu!

BEIJOS DO TAMANHO DO NOSSO AMOR!

Nota: estes poemas, alguns dos quais já publicados, foram sendo escritos ao longo dos anos e, aqui, hoje, revividos.
Fotos: Google imagens