25 de outubro de 2010

vi em teus olhos



Vi em teus olhos
De luz vestidos
Doce promessa
De primavera


E … desfolhei-me
Por seus encantos! 


(dos meus "Versos de Cor")


Foto: Imagens Google

16 de outubro de 2010

dez réis de esperança

Se não fosse esta certeza 
que nem sei de onde me vem,
 
não comia, nem bebia,
 
nem falava com ninguém.


Acocorava-me a um canto,
 
no mais escuro que houvesse,
 
punha os joelhos à boca
 
e viesse o que viesse.


Não fossem os olhos grandes 
do ingénuo adolescente,
 
a chuva das penas brancas
 
a cair impertinente,


aquele incógnito rosto,  
pintado em tons de aguarela,
 
que sonha no frio encosto
 
da vidraça da janela,


não fosse a imensa piedade 
dos homens que não cresceram,
 
que ouviram, viram, ouviram,
 
viram, e não perceberam,


essas máscaras selectas,  
antologia do espanto,
 
flores sem caule, flutuando
 
no pranto do desencanto,


se não fosse a fome e a sede 
dessa humanidade exangue,
 
roía as unhas e os dedos
 
até os fazer em sangue.


António Gedeão


Foto: "É sol", Olhares da Gui (http://olhares.aeiou.pt/GuiOliveira)

9 de outubro de 2010

teus olhos, minhas estrelas


Era uma noite clara de luar,
No céu brilhavam, belas, as estrelas
Eu, em silêncio, só de as contemplar
Era feliz, pois via-te, ao vê-las!

A luz, dourando o doce azul, no ar,
Mais que da Lua se espalhando e delas
Era, a meus olhos, teu saudoso olhar,
Única luz que acende minhas trevas!

Não estava só, sentindo palpitar
Em mim, por ti, um coração que anelas:
Não é possível estar só, de tanto amar!

A brisa suave, a soprar nas janelas,
Trazia o som de tua voz, sobre o mar
E teu brilho, amor, apagava as estrelas!

Foto: Google imagens

5 de outubro de 2010

ternura

Desvio dos teus ombros o lençol
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do Sol,
quando depois do Sol não vem mais nada...

Olho a roupa no chão: que tempestade!
há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
em que uma tempestade sobreveio...

Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...

Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós! 

David Mourão Ferreira

Foto: Google Imagens

2 de outubro de 2010

Ah, poder ser tu, sendo eu!




Ah, poder ser tu, sendo eu!
Ter a tua alegre inconsciência,
E a consciência disso! Ó céu!
Ó campo! Ó canção! A ciência

Pesa tanto e a vida é tão breve!
Entrai por mim dentro! Tornai
Minha alma a vossa sombra leve!
Depois, levando-me, passai!

Fernando Pessoa

Foto: Google imagens