24 de novembro de 2011

"Quase"


“Quase”…

… no desfiar dos dias, momento que nos pode separar do tudo ou do nada!

… sob a ditadura do relógio, instante que une o antes e o depois e torna presente ou ausente o agora!

… em luta pela afirmação da pessoa, impulso que permite ou impede de escolher e, então… então ser ou não ser!

… na aventura da vida, lapso de espaço ou de tempo que resiste entre sermos participantes ou meros espectadores do movimento nesse espaço e do devir desse tempo!

“Quase”… no limiar do risco, o risco de ser ou… “apenas” viver!…

A foto, “Lost in time” é da Joana (http://olhares.aeiou.pt/lost_in_time_foto1679532.html)

5 de novembro de 2011

Estrelas de Outono


Folhas secas e amarelas
A cair, leves, no chão,
Trazem segredos que o Verão
Contou, de ti, às estrelas
Quando, amor, no meio delas
Brilhavas e teu clarão
Lhes dava a doce ilusão
De serem flores, das mais belas!
De teu sorriso, a alegria,
De teu olhar a esperança
Que ao peito dá confiança
E à noite a luz, que nem dia
Elas me falam; mas, fria,
A aragem do vento dança
E, humedecendo a lembrança,
Lhes torna a vida sombria!
E as saudades do luar
De Agosto, nas noites claras,
Das praias que iluminaras
Com teus olhos cor de mar,
Já só lhes deixam sonhar
Que as alegrias, tão caras
E, agora, mais e mais raras,
Desse tempo hão-de voltar!
Foto: Google Imagens

9 de outubro de 2011

Sob o frio vento norte


Sob o frio vento norte,
Pelo montado, à tardinha,
Te encontrei e, amada minha,
Abrigado em teu regaço,
Ultrapassei meu cansaço
E, aos céus, louvei por tal sorte!
Foto de Olhares da Gui (http://olhares.aeiou.pt/foto1447819.html

30 de setembro de 2011

Assim... Assim...



Em tempo de ser
Que não sente
Ou espera, assim
O presente
Ausente
Brinca: assim!

Neve que se esvai
Persistindo
Muito alva, assim
Ao calor
Derrete,
Finge: assim!

Lágrimas de dor
Da partida
Dolorosa, assim
Nossa vida
Amada
Teima: assim!

Assim, assim
Persiste na essência,
Sente a natureza!

Assim, assim
Rouba, da alegria,
Doce canto à vida!

Foto "Conjuntos", de Quicas, pelos jardins da Gulbenkian - Lisboa http://olhares.aeiou.pt/conjuntos_foto4326790.html

23 de setembro de 2011

No sono da Lua


No sono da Lua
Quando, em longas e escuras noites, aturdido pelo sono da Lua, a fragilidade arrepia meu corpo, vale-me a coragem de acreditar que o amanhã poderá ser fonte de renovada esperança!...
Penso na Lua ausente que, em seu enigmático despertar, sempre persiste, vencendo as fases que a apagam no firmamento ou as nuvens que a escondem dos humanos olhares.
Amiga, ela sempre volta, nas noites de luar, brilhante, bem cheia da luz roubada ao astro-rei, em viagem pelo outro hemisfério, a iluminar os corações apaixonados, encantando-lhes os sonhos!
Perdidos nesses encantos, os amantes, enlevados, já não querem voltar a acordar!... Como eles, embalado no mesmo aconchego, também eu me esqueço do tempo, se é noite, se é dia… pressinto eternidade!...
Foto da net

18 de setembro de 2011

No teu aniversário...

Contigo, eu vivo
Quaisquer dias, longe
De ti, meu amor,
Tão longos, são tempo
De dor e saudade!
Nossos beijos doces,
Sempre que regressas,
Sedentos, são gritos
De louca alegria!
Nossos corpos quentes,
Quando nos unimos
No amor, enlaçados,
São hinos à vida!
Mente a vida, mente,
Cada vez que os dias
Te levam de mim
Deixando-me…vivo!
Foto tirada pela Joana, em Santiago de Compostela.

10 de setembro de 2011

Ondas do meu mar (menção honrosa em concurso de poesia)



Bravias, mansas, delírios de amor
Em peito ufano, feliz do encanto,
São melodias salgadas, de espanto,
Suaves salpicos de calma, ao calor.

Não são jardins, mal conhecem flor,
Inventam asas, perdem-se no encanto
Do vento norte, com seu triste pranto
E sobre a areia espraiam seu fragor.

Vivem da força, invisível, do vento,
Bebem, da lua, certeiras medidas
E, ao sol, escrevem reflexos brilhantes.

Nos dias longos não sentem que o tempo
Corre, sem parar, enlaçando vidas,
Casais jurando-se eternos amantes.

Foto da Joana (http://olhares.aeiou.pt/juaninha8)

Este soneto mereceu uma Menção Honrosa no Concurso "A poesia ao encontro do tempo", organizado pelo Centro de Cultura de Campos.




4 de setembro de 2011

Encontro


Na tua saia de pregas
Azul, de linho tecida,
Entrevi todo o encanto,
Que teus cabelos, um dia,
Me desvelaram, no espanto
De um olhar de céu aberto
Ah, doce e terna magia,
Que à noite escura alumia!

Tua blusa branca, suave
Da seda que à pele vestia
Nunca esconderia a graça
Do leve andar e a beleza
Do sorriso que teu rosto,
Iluminado de sonhos,
De amor, sol e fantasia
Aos meus olhos prometia!

Do verde, o brilho roubavas
Me enchendo o peito de esperança.
À lua, a vida ensinavas
E, até mesmo à Primavera,
Seus botões abrindo em flores
Nos jardins, incendiados
Por teu olhar e calor,
Renovavas o fulgor!

Poderia ter morrido
Ali mesmo nesse dia
Certo que a vida, entretanto,
Nada mais podia dar-me
Tal que de ti me esquecesse!
Te encontrei e, feito escravo
De teu amor, na verdade
Renasci, que felicidade!

Foto: Google Imagens 

24 de agosto de 2011

Pirilampo


No susto de um momento perdido – atirado, porventura, ao vento distraído – deu um pulo do seu tamanho e ali ficou, mudo e quieto, a pensar com seus botões fosforescentes: agora já não vou a tempo de espreitar o futuro, tão lesto deslizou o presente!

E… despertou para a promessa de um infinito ali mesmo à mão, paciente, pressentido…!

5 de agosto de 2011

O cão da praia


Da varanda do apartamento, em longo e reconfortante espreguiçar matinal, entrevia-se a cor da bandeira no areal: estava pintada de verde – podia-se nadar, as águas estariam mansas, na maré baixa – contradizendo-se naquela manhã de verão pois, qual nortada das costas do norte do país, o vento a arrepiava, soprando os veraneantes para longe do mar, ao abrigo de desagradáveis banhos de areia.
A ordem era para aguardar que o dia crescesse e, mais maduro, trouxesse a calma prometida na véspera. Então, acessórios a tiracolo, seria hora de invadir as areias macias e quietas, passada a ventania!

Não fora esse incómodo temporário, a rotina de veraneio teria seguido seu curso, impávido e pontual: o passeio a pé à beira mar, de mão dada, serpenteando entre as ondas para habituar o corpo à temperatura da água, os encontros e “olás” mais ou menos demorados com conhecidos de férias, os primeiros mergulhos na volta e, finalmente, a hora do banho a sério. Era o desafio da natação, exercício para recuperar do sedentarismo do ano de trabalho, seguido do abraço à toalha estendida na areia bem quente, pare secar e bronzear.

No areal, grupos de “vizinhos”, ainda que só de ocasião, testavam amizades novas, talvez efémeras ou, quiçá, capazes até de resistir à realidade pós-férias que, então, se pretendia bem distante – aqui, o presente era tudo! Magotes de crianças de colónias de férias e outras escolas traziam, a espaços, alguma algazarra ao sossego reinante. O sol tornava-se mais abrasador e a sombra dos corpos, diminuindo rapidamente, aconselhava algum resguardo. Em espaço escolhido à chegada, o guarda-sol ficara de sentinela às cadeiras que, protegidas do sol, estavam disponíveis para o repouso ou para a leitura, quando não se proporcionavam conversas mais ou menos interessantes com alguém ali próximo, sempre bem ao abrigo do calor do meio-dia.

Naquele dia, porém, uma outra presença se fez notar impondo-se, mansa e docemente. Debaixo de uma das cadeiras, partilhando a sombra possível, um cão já aparentando idade avançada, tinha-se instalado e dormia um sono, profundo mas, aparentemente, perturbado. A respiração era ofegante, abdominal, levantando a suspeita de que tivesse a vida em risco. Valeu, na hora, o testemunho de quem já o conhecia e, descansando os mais aflitos, informou que o pobre animal, abandonado por ali já não se sabia quando, se tornara também dono daquele areal.

Ano após ano, em ameno convívio com os veraneantes, conquistava a atenção dos visitantes estivais. No resto do ano, os pescadores iam garantindo que resistisse às agruras do tempo, alimentando-o e abrigando-o sempre que precisava. Teria nome, talvez mas, órfão do carinho que merecia e privado do lar que em tempos também lhe teria pertencido, era conhecido por todos como o “cão da praia”. Também neste verão, como nos anteriores, o cão da praia ganhou novos donos que, pelo menos por alguns dias, não lhe regateavam cuidados e carinhos com que adoçavam o salgado do mar em que diariamente se banhava.

Foto: Google Imagens

18 de julho de 2011

Olhares que gritam


Os silêncios só incomodam quando, ruidosos, abafam o que deve ser dito… fora isso, são tão importantes como quaisquer sons!

Serão pausas, às vezes e outras – ai, tantas! – momentos de partilha do que não se consegue dizer por palavras e, então, se grita num olhar…!

Foto: “Um olhar…” de Ju (http://olhares.aeiou.pt/juaninha8)

7 de julho de 2011

A minha estrela


Oh bela estrela que, doce, me guia
Em breves passos, caminho adiante,
És luz que brilha, por todo o meu dia
E não se apaga, na noite, um instante!

O sol raiando para mim, não via
Pois, de meus olhos, estavas distante;
Mas eis, te vi, nesta vida, antes fria,
Um novo calor emergiu, vibrante!

Que sei da vida, pois se me esvazia
Sentindo, embora, um viver mais constante?
Não sei da noite pois só vejo dia!

Cantar, quisera mas, não sei que cante
Tal que traduza, qual sinto, a alegria:
Meus pobres versos não dizem bastante!

Foto: Google Imagens

21 de junho de 2011

Saudade



De que me serve esta vida
Longe de ti, meu amor,
Se alegrar-me gera a dor,
Se sorrir me faz ferida?

De que me serve, num grito,
Chamar por ti, com ardor,
Se não tenho o teu calor,
Se não vens valer-me, aflito?

De que me serve a saudade
E as chagas de seus espinhos:
A tristeza, a solidão?

Como sentir felicidade
Se não tenho teus carinhos
E é longe o teu coração?

Foto: “Esticão”, de Gui Oliveira (http://olhares.sapo.pt/esticao-foto1955774.html)

Amigos
Vou estar ausente por alguns dias, perdoem não vos visitar com assiduidade.
Deixo-vos com um dos primeiros sonetos que escrevi, em 1974.
Até Julho!

10 de junho de 2011

mensagem do pai



Mensagem do pai

Vi pousar uma andorinha
Manhã cedo na janela
Para saber ao que vinha
Logo quis falar com ela.

Presa nas asas, com linha,
Segurava linda vela
Brilhante, da luz que tinha
Acesa, como uma estrela!

Não falava, a pobrezinha
Mas, de uma forma tão bela,
Saltitando, sorte a minha,
Deixou mensagem singela:

Teu pai querido, até vinha
Beijar-te a face e aquecê-la,
Agora ou logo à tardinha,
Tão fria, aqui, à janela.

Mandou-te, enfim, a andorinha,
Estas letras e esta vela
P'ra, de manhã à noitinha,
De amor, acesa mantê-la!

Joaquim do Carmo

29 de maio de 2011

a enxertia


- Avô, avô, está a chegar a Primavera – gritava, quinteiro adentro, até parar, quase sem respiração, encostado à banca de trabalho, junto à parede forrada de ferramentas!

Nas primeiras vezes, o Ti Manel Afonso até se assustara com estas entradas de rompante do neto, sem pré-aviso, pelas calmas tardes domingueiras. Depressa, porém, essas tardes já não eram as mesmas quando, por algum motivo, ele não podia vir animar, com as suas perguntas intermináveis, as horas em que, com teimosa habilidade, se entretinha a dar largas à sua criatividade, entre semanas de intensa labuta.

Fora numa dessas tardes que, pela janela do barracão anexo ao quintal da casa, o Tomás reparara na pereira carregada de enormes peras, qual delas a maior, vergando sob o seu peso os ramos já cansados.

- Para que são aqueles paus, avô?

Por baixo de alguns dos ramos mais carregados, o Ti Manel Afonso colocara estacas resistentes, para impedir que se partissem, arrastando na queda os frutos ainda imaturos, com risco de apodrecerem.

- É para ajudar a árvore a segurar as peras, que são muito grandes, estás a ver?

- Mas porque é que não as apanhas avô? Assim, podíamos comê-las e os ramos já não tinham que segurar tanto peso!...

- Pois, é verdade, Tomás! Só que as peras ainda não estão maduras!...

- Maduras, avô?

- Sim, Tomás, o avô está cansado de te dizer que a fruta só se deve comer quando já está madura, ou seja, tenra, macia e saborosa como as pessoas gostam; para isso, temos de esperar o tempo necessário!

Naquela época, que saudade, não se apanhava a fruta verde para armazenar em câmaras frigoríficas e vender, meses depois, como se acabada de colher…!

- Mas as peras da Ti Mariana são mais pequenas e também são muito boas, que eu já provei!

- Tens razão, a maior parte das pereiras dão frutos mais pequenos e, a não ser que sejam em muito grande quantidade, o que é raro, os ramos aguentam bem! O avô até já pensou em pedir-lhe um bom galho para enxertar na nossa pereira, a ver se dá peras mais pequenas mas com o mesmo sabor!

- Enxertar?! O que é isso?

- Ora bem: com algumas árvores, é possível, pela Primavera, colar num ramo de uma árvore um galho de outra árvore, mesmo que de outro fruto, seguindo algumas regras importantes, num processo a que se dá o nome de enxertia! O avô não é um grande entendido mas, com cuidado e alguns conhecimentos, pode tentar enxertar num ramo desta pereira um galho das pereiras da Ti Mariana. Quando for a altura certa – como já te disse, terá de ser lá para Março, pertinho da Primavera – o avô vai mostrar-te como se faz. Quem sabe, talvez na próxima colheita já tenhamos também peras iguais às da Ti Mariana, com o ramo que ela me der.

Os domingos iam-se sucedendo, um após outro, ao sabor do calendário, com o Ti Manel Afonso entretido nas suas tarefas domingueiras: eram cadeiras que, a pedir renovação, com uma habilidade de fazer inveja a qualquer marceneiro, ficavam como novas, para regalo do Tomás, ajudante de serviço sempre muito activo; era a poda às videiras da ramada, à malapeira, à velha pereira, também, claro – a laranjeira, bem junto do poço, estava no auge da sua produção e só mais tarde chegaria a sua vez.

Havia sempre algo para fazer, com chuva ou com sol, para manutenção da velha casa, das mobílias, cheias de história mas, também, cansadas da luta contra o tempo e do uso, por mais cuidadoso, enfim, da horta e do pomar, as tarefas mais pesadas que a avó já não conseguia executar durante a semana.

A velha pereira, aliviada de seus frutos, entretanto saboreados, resistia como podia aos rigores de mais um Inverno, sempre sob o olhar atento e expectante do Tomás, desesperando por assistir, na primeira fila, à prometida enxertia, essa coisa fantástica, jamais por si imaginada, de pôr a pereira do avô a dar peras como as da Ti Mariana! Na sua inocência, até já se esquecera que, com tal empreitada, o Ti Manel Afonso também esperava conseguir que a velha pereira conseguisse dar frutos mais pequenos, aliviando os ramos do esforço a que eram sujeitos com as enormes peras que habitualmente produzia.

Na última semana, na escola, a professora dera o mote: meninos e meninas, como está a chegar a Primavera, vão todos fazer um lindo desenho sobre esta estação do ano – e seguiu-se, como se está mesmo a ver, uma breve exposição sobre as quatro estações do ano, suas características mais simples e acessíveis, até se fixarem no tema agora proposto.

Tomás não via chegar o fim da semana, ansioso pela habitual visita ao avô. Já estava a vê-lo com o galho pedido à Ti Mariana em punho, pronto para a tão esperada cirurgia! Por pouco não tropeçou, na correria, com um novo companheiro para essa tarde: lá estava ele, estendido bem ao lado da bancada, o galho entretanto cedido pela Ti Mariana, prontinho para dar nova vida à velha pereira.

Mãos à obra, intimou o avô, adivinhando a pressa do Tomás em participar em tão importante evento! Agora vou ver se estás atento e, se correr bem, para o ano que vem já vais saber como fazer mais um enxerto.

O ritual que se seguiu, pela tarde fora, ainda hoje, volvidos tantos anos, está na memória do Tomás como se fosse presente! Dos nomes das técnicas às mais cuidadosas manipulações, dos eventuais padecimentos da paciente cobaia, das expectativas para a próxima colheita, de tudo o seu saudoso avô, Ti Manel Afonso, lhe foi dando conta, passo a passo, prendendo-lhe a atenção e saciando-lhe a curiosidade. Olhando agora para a pereira ainda resistente, já adornada com peras de dois tamanhos bem diferentes porém, todas igualmente deliciosas Tomás, lágrima no canto do olho, não pode deixar de recordar a última pergunta que fez nessa tarde tão distante:

- Avô, achas que este galho da pereira da Ti Mariana se vai dar bem no garfo da nossa pereira onde o prendeste? É assim como mudar de casa, não é?...

- Sabes, Tomás, respondeu-lhe o Ti Manel Afonso, com ar sério mas de extrema suavidade: na natureza, todas as coisas se entendem bem, desde que as pessoas as respeitem como são, em seu encanto e riqueza. E, mesmo quando nós tentamos adaptá-las a novas formas, se as tratamos com amor, cuidado e dedicação, elas compensam-nos da melhor maneira que sabem: renovam-se cada dia, todos os anos, para nos servir e ajudar a ser felizes!

Foto: Google Imagens

14 de maio de 2011

aparição


na penumbra
se vivem reflexos de esperança,
em pausa de incerteza!

entre raios estelares,
prenúncio de alva beleza,
gritos doridos, cânticos,
adoração e prece!

e, de uma voz doce,
celestial, melodiosa,
um chamamento de amor:
“dizei a todos que venham também…”!

e vieram… com fé,
e voltam… em paz,
procurando... o tal amor!

Imagem da Net

2 de maio de 2011

Mãezinha


Os teus olhos, ó mãezinha,
São brilhantes, mais que o céu!
Quanta inveja o Sol sustenta
Num olhar teu!

As tuas mãos, ó mãezinha,
São ternura e dão calor!
Se me embalas, em teu peito
Respiro amor!

Teu sorriso, ó mãezinha,
Minha vida ilumina!
Meu caminho, junto a ti
É doce sina!

Os meus versos, ó mãezinha,
São amor, mais que trovar!
Sou feliz por ter-te minha
E a ti cantar:

Mãezinha, ó meu amor!
Mãezinha, dom do Senhor!
Fica comigo por toda a vida!

Reedição
Foto: Google Imagens

25 de abril de 2011

Soltaram-se as asas


Deambulavas pelo campo, em tarde chuvosa, melancólico e apreensivo, ansiando primaveras há muito prometidas. Entre os pingos da chuva, qual melodia distante e saudosa, borbulhavam sons familiares, entre-cortados de palavras sentidas, sofridas, caladas.

Passando junto do campanário da velha igreja da aldeia, catavas lá no alto ventos de outras eras, de outros povos, de outros cantos do universo, asas presas na distância, outras paragens, quiçá inventadas, sem dúvida sonhadas, pressentidas.

Nessas longas caminhadas, imerso nas mais estranhas divagações, surpreendias-te aterrorizado no meio de um capim já quase familiar, sobrevivendo, nem sabias como, à mais terrível das emboscadas, vinte e um anos, quase imberbes, suspensos de um golpe de sorte – “ainda” não tinha chegado a tua vez: talvez estivesse já ali, ao findar de um mês demasiado próximo, a menos que te aventurasses “a salto” além da fronteira.

Tudo adiado, tudo em jogo, talvez! Futuro… que futuro?! “Um dia de cada vez” era a frase mais ouvida entre os iguais, sempre com a ténue esperança de que fossem poupados. Quem sabe a tal madrugada chegava, sem aviso prévio, como só poderia ser!?

Era assim que terminavam aqueles dias, era assim que outros mais teimavam amanhecer, cortando as asas aos que ainda se julgavam em tempo de semear enquanto, para os que apenas guardavam alguma reserva de vida para eventual colheita, as tardes se tornavam cada vez mais curtas, as noites mais longas e desesperadas.

Assim mesmo, de facto, entre a surpresa de quem se julgava eterno e a loucura de quem nunca desistira, essa madrugada de promessas despertou: alegre, ingenuamente alegre e sonhadora, disposta a mudar o destino, cravos vermelhos carregando as espingardas trovas, enfim desveladas, transformadas em senha de passagem para a vida!

Nessa madrugada, agora talvez já demasiado distante, até o cata-vento do campanário lá da igreja, nessa aldeia dos confins, soltou asas e se atreveu a arriscar viagens nunca imaginadas, para um futuro, finalmente, palavra-verdade-viva!

Nessa madrugada, como todos os jovens, até então com a vida a prazo, podias escrever, pela própria mão, um livro cheio de páginas de paz e prosperidade.

Foto: Google Imagens

13 de abril de 2011

Em mim teus beijos


Em mim, teus beijos

Ó meiga flor,

Suave doçura,

São, de desejos,

Eterno amor,

Qual fonte pura!


Em mim teus beijos

Sabor a sal

Sabor a mar

Ternos ensejos

Loucura tal

Qual palpitar!


Em mim teus beijos

Demais Maria

Demais formosa

Soam solfejos

De melodia

Com cheiro a rosa!


Dos meus "Versos de cor"
Foto Google Imagens

8 de abril de 2011

Senhora da Guia


Ao pé das ondas do mar
Ondulantes, cristalinas,
Abertas de par em par
Estão tuas portas salinas!

Em teus altares, a rezar,
Pedindo graças divinas,
Teus fiéis, do marear
Repousam mágoas e sinas.

Luzes de velas no altar,
Andores em roupagens finas,
Enfeites de jardinar,
De navegar, as bolinas.

E da Senhora, no ar
Pendem, calmas e ladinas,
Estrelas que cegam o olhar
Destas almas pequeninas.

Tão marcadas de penar,
Saudosas de ser meninas,
Entoam doce cantar
Fortes mulheres, as varinas.

Aqui sentem seu solar,
Aqui vêm, das esquinas,
Saber o que é amar,
E tornar-se peregrinas!


Fotos de Ju Oliveira

21 de março de 2011

A cor da Primavera


no meu jardim
imaginário
as flores
…todas
não querem ter cor!

no meu jardim
sonhado
as flores
… sempre
nascem coloridas!

nesse jardim
imaginário…
nesse jardim
sonhado…
nesse jardim, que não tenho:

nascem flores, coloridas
… todos os dias,
só com um sorriso!

no meu jardim!...

(Dos meus "Versos de Cor")



"Quando tornar a vir a Primavera

Quando tornar a vir a Primavera
Talvez já não me encontre no mundo.
Gostava agora de poder julgar que a Primavera é gente
Para poder supor que ela choraria,
Vendo que perdera o seu único amigo.
Mas a Primavera nem sequer é uma cousa:
É uma maneira de dizer.
Nem mesmo as flores tornam, ou as folhas verdes.
Há novas flores, novas folhas verdes.
Há outros dias suaves.
Nada torna, nada se repete, porque tudo é real. "

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"
Heterónimo de Fernando Pessoa

Fotos: Google Imagens

19 de março de 2011

Pai, SEMPRE!


Num sorriso

Meigo,

Amanhãs de esperança!



Num abraço

Longo,

Infindável presença!



Num gesto

Firme,

Certeza de vitória!



Na minha vida

Tu,

Sempre, saudoso PAI!

Foto: Google Imagens

12 de março de 2011

À MELHOR GATA DO MUNDO!!!

Hoje ficamos mais pobres:

a “Guida” deixou de ronronar...

em todos nós,

ficou uma saudade sem fim!


"A melhor gata do mundo!!! companheira de uma vida, a lifetime worth of happy, tender moments i'll never forget. 16 anos depois dormes como mereces, a minha bebé, a minha princesa que para sempre vou guardar como minha, como meu tesouro. :' para quem a conheceu era bera, mas para mim sempre um docinho... obrigada Guidinha, por toda a companhia... " (Joana)

"Há momentos que não se esquecem. Uns bons, outros maus. Este é um dia que me marca para sempre. Não sou a mesma pessoa que era ontem. Este dia mudou-me, para sempre. E para sempre farás parte de mim. Sempre nos momentos bons! E mesmo nos momentos maus, foste presença constante e assim o serás... Nunca te vou esquecer... Eterno ronronar meu... ♥ " (Joana)

"Entraste de rompante na minha curta existência há 16 anos…" (Joana)

"O teu ronronar… ai o teu ronronar… bem no meu pescoço, no meu colo, como gostavas de adormecer… a tua companhia, como se fosses a minha sombra! para todo o lado! até para o banho :)

Cada lágrima que secaste, cada mimo que me deste, a companhia que me fizeste… momentos só nossos que para sempre vão ficar…

Foste tanto! És tanto!!! E para sempre SEMPRE o serás… nunca te vou esquecer… imortalizada em fotos, em videos, em clips de som… Mas para sempre no eu coração.

A minha bebé. Insubstituível! My little guardian angel… a minha Guidinha… " (Joana)

8 de março de 2011

mulher

Mãe, amante, companheira...

Eterna Primavera

Vida, amor, encanto...

Esperança repetida

Promessa de eternidade...

Ternura

Dedicação, sabedoria...

Mulher: RAINHA!

Dos meus "Versos de Cor"




"O HOMEM E A MULHER

O homem é a mais elevada das criaturas.

A mulher é o mais sublime dos ideais.

Deus fez para o homem um trono.

Para a mulher, um altar.

O trono exalta; o altar santifica.

O homem é o cérebro; a mulher é o coração.

O cérebro fabrica a luz; o coração produz amor.

A luz fecunda; o amor ressuscita.

O homem é forte pela razão.

A mulher é invencível pelas lágrimas.

A razão convence; as lágrimas comovem.

O homem é capaz de todos os heroísmos.

A mulher, de todos os martírios.

O heroísmo enobrece; o martírio sublima.

O homem tem a supremacia.

A mulher, a preferência.

A supremacia significa a força.

A preferência representa o direito.

O homem é um gênio; a mulher, um anjo.

O gênio é imensurável; o anjo, indefinível.

Contempla-se o infinito, admira-se o inefável.

A aspiração do homem é a suprema glória.

A aspiração da mulher é a virtude extrema.

A glória faz tudo grande; a virtude faz tudo divino.

O homem é um código.

A mulher, um evangelho.

O código corrige; o evangelho aperfeiçoa.

O homem pensa, a mulher sonha.

Pensar é ter no crânio uma larva.

Sonhar é ter na fronte uma auréola.

O homem é um oceano, a mulher um lago.

O oceano tem a pérola que adorna.

O lago, a poesia que deslumbra.

O homem é a águia que voa.

A mulher é o rouxinol que canta.

Voar é dominar o espaço.

Cantar é conquistar a alma.

O homem é um templo.

A mulher é o sacrário.

Ante o templo nos descobrimos.

Ante o sacrário nos ajoelhamos.

Enfim…

O homem esta colocado onde termina a terra;

A mulher onde começa o céu…"

Vítor Hugo

31 de janeiro de 2011

Dona de meus sonhos




Teu corpo lindo, de flores doce leito,

Meu ser embala em gestos de ternura,

Perfuma, abrasa e leva à loucura

O meu desejo, de ti, escravo feito!



Qual fogo ardendo, de amar, o teu jeito

É canto meigo, alento na amargura,

É doce esperança apagando a lonjura,

É suavidade, tormento desfeito.



É grito alegre, deleite, frescura

Que acalma as dores de sonho desfeito:

Com teu sorriso, todo o mal tem cura!



Possam meus versos louvar-te, a preceito,

Por tais encantos e então, que ventura,

Sonhar-te, sempre, guardada em meu peito!



Foto: Google Imagens

23 de janeiro de 2011

Tragédia no Rio de Janeiro - "Pray"

Aqui lembro, neste Domingo, com várias versões em fundo, a letra da canção de Justin Bieber "Pray": ao abrir os olhos, após uma sentida oração, gostaria de não ver mais tragédias, injustiças, fome, guerra... tantas crianças inocentes a sofrer!..


Em homenagem às vítimas da tragédia recente no Rio de Janeiro, a que se referem as imagens, obtidas na net, convido-vos a "REZAR":

Tradução livre da letra da canção "Pray", de Justin Bieber:

Ohh Ohh Ohh .. /E eu rezo

Eu não consigo dormir esta noite/Sabendo que as coisas não estão certas/Está nos jornais, /está na TV, /está em todo lugar que eu vá/As crianças estão chorando /Os soldados estão morrendo /Algumas pessoas não têm um lar /Mas eu sei que há sol /por detrás da chuva /Eu sei que há bons tempos /por detrás dessa dor, /Ei! /Você pode dizer-me como /posso fazer uma mudança?


Eu fecho meus olhos e posso /ver um dia melhor /Eu fecho meus olhos e rezo, /ooh /Eu fecho meus olhos e posso /ver um dia melhor /Eu fecho meus olhos e rezo /ooh


Eu perco o apetite /Sabendo que as crianças passam fome /esta noite /Eu sou um pecador, /Porque o meu jantar /ainda está no meu prato /Ooh, /eu tenho uma visão, /para fazer a diferença /E é a partir de hoje /Porque eu sei que há sol /por detrás da chuva /Eu sei que há bons tempos /por detrás dessa dor, /Ei! /Ninguém me diz como /Eu posso fazer uma mudança?


Eu fecho meus olhos e posso /ver um dia melhor /Eu fecho meus olhos e rezo /Eu fecho meus olhos e posso /ver um dia melhor /Eu fecho meus olhos e rezo /Por esses corações partidos /Eu rezo pela vida que não começou /Eu rezo por todos aqueles que não respiram /Eu rezo por todas as almas necessitadas. /Eu rezo. /Você pode mudar este hoje.


Eu não consigo dormir esta noite, /Alguém pode dizer-me como /fazer uma mudança?

Eu fecho meus olhos e posso /ver um dia melhor /Eu fecho meus olhos e rezo, /ooh /Eu fecho meus olhos e posso /ver um dia melhor /Eu fecho meus olhos e rezo /ooh /Eu oro /Eu rezo ... /Eu fecho meus olhos /e rezo

19 de janeiro de 2011

Eugénio de Andrade - "As palavras"


São como um cristal,

as palavras.

Algumas, um punhal,

um incêndio.

Outras,

orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.

Inseguras navegam:

barcos ou beijos,

as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,

leves.

Tecidas são de luz

e são a noite.

E mesmo pálidas

verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem

as recolhe, assim,

cruéis, desfeitas,

nas suas conchas puras?

___________________

O poeta Eugénio de Andrade morreu a 13 de Junho de 2005, no Porto, aos 82 anos, vítima de doença prolongada.

O poeta morreu às 03h30, em sua casa, no Porto. Eugénio de Andrade, pseudónimo de José Fontinhas, nasceu a 19 de Janeiro de 1923 na Póvoa de Atalaia, Fundão, região da Beira Baixa, fixando-se em Lisboa em 1932 com a mãe.

Viveu no Porto desde 1950, onde criou a fundação com o seu nome.

A sua obra poética e em prosa foi já inúmeras vezes premiada e está traduzida para alemão, asturiano, castelhano, catalão, chinês, francês, italiano, inglês, jugoslavo e russo.

Fotos: Imagens Google

16 de janeiro de 2011

A cor dos teus olhos


Pelo entardecer,

o azul do céu ganha mais cor...

É belo, o pôr-do-sol
mas, muito mais belo
o verde dos teus olhos,
de manhãzinha,
ao acordar, meu amor!

Dos meus "Versos de Cor"
Foto: Imagens Google (editada)

12 de janeiro de 2011

Ricardo Calmon

Este amigo está a passar um momento difícil!

Peço a todos que, da forma que melhor entenderem, se lembrem dele!


"PREPARATORIUM ORATORIUM


SENHOR, EM PRECE ESSA, AO NIRVANA ESTOU, DE DADAS MÃOS COM JÚLIO, QUE AQUI HABITA, ALÉM DE GRENÁS PAPOULAS E A SAUDADE TODA DEL MONDO,SOLEDADE TAMBÉM UM ARCO ÍRIS MANDOU,ALÉM DE MISSÃO ESSA,AQUI VIM,MEU AMIGO ,PARA QUE ME DÊ CORAGEM E FORÇA,EM TRILHA ESSA QUE ADENTRAR TENHO, PARA QUE UM DIA,ASSIM POSSA NA ATLANTICA MATA,voltar a ME BANHAR,COM AS ÁGUAS DE DEUS.
(...)

AMEN!

VIVER É SIM, PURA MAGIA"


Grande abraço, amigo! Rápida recuperação!

http://viverpuramagia.blogspot.com/

6 de janeiro de 2011

Homenagem-a-MALANGATANA

Faleceu Malangatana! VIVA MALANGATANA!

Para o escritor moçambicano Mia Couto, "é uma notícia muito, muito triste. Moçambique teve em Malangatana uma espécie de embaixador permanente da cultura pela projecção que deu ao país. Moçambique é hoje mais e melhor conhecido em grande parte pela obra do Malangatana".


(in JN.SAPO.PT)

Valente MALANGATANA, 1936-2011

O artista mais conhecido de Moçambique, o carismático Malangatana Ngwenya foi nomeado Artista UNESCO para a Paz em 1997.

Malangatana nasceu em 1936 em Matalana, sul de Moçambique. Os seus primeiros anos de vida foram passados em Escolas de Missões e ajudando a sua mãe no trabalho no campo.

Com doze anos, Malangatana muda-se para Maputo (então Lourenço Marques) para procurar trabalho e em 1953 começa a trabalhar no Clube de Ténis como 'apanha-bolas'. Este trabalho permitiu-lhe continuar a estudar, frequentando as aulas à noite. Foi nesta altura que o seu talento começou a ser notado. Augusto Cabral, membro do Clube de Ténis, forneceu-lhe os materiais e a ajudou-o a vender o seu trabalho. Em 1958 Malangatana frequenta o Núcleo de Arte, com o apoio do pintor Zé Júlio. No ano seguinte, Malangatana tem o seu trabalho exposto publicamente pela primeira vez numa exposição colectiva e dois anos mais tarde,realiza a sua primeira individual, com 25 anos. Em 1963 a sua poesia é publicada na revista 'Black Orpheus' e na antologia 'Modern Poetry from Africa". No ano seguinte, Valente Malangatana é preso pela polícia secreta (PIDE) e passa 18 meses na cadeia. Em 1971 recebe uma bolsa da Fundação Gulbenkian e estuda gravura e cerâmica. Desde 1981 trabalha exclusivamente como artista.


Malangatana foi agraciado com a medalha Nachingwea pela sua contribuição para a cultura Moçambicana e nomeado Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique. Expôs em Angola, Portugal, Índia, Nigéria, Chile e Zimbabué entre outros, e o seu trabalho está representado em colecções por todo o mundo. Trabalhou em várias encomendas de arte pública incluindo murais para a Frelimo e para a UNESCO. Malangatana está também activo no estabelecimento de várias instituições incluíndo o Museu Nacional de Arte e um centro para jovens artistas em Maputo. Foi também um dos fundadoes do Movimento para a Paz.

O trabalho de Malangatana projecta uma visão ousada da vida onde há uma comunhão entre homens, animais e plantas. Baseia-se na sua 'herança' mas simultaneamente abraçando símbolos de modernidade e progresso, síntese entre arte e política. O reconhecimento do seu estatuto está presente na declaração proferida pelo Director-Geral da UNESCO, Federico Mayor ao entregar-lhe a distinção. Mayor nota que Malangatana é 'muito mais do que um artista, é alguém que demonstra que existe uma linguagem universal, a linguagem da Arte, que permite comunicar uma mensagem de Paz.'

extraído de: "Contemporary Africa Database"

1 de janeiro de 2011

DIA MUNDIAL DA PAZ



"Ode à Paz

Pela verdade, pelo riso, pela luz, pela beleza,
Pelas aves que voam no olhar de uma criança,
Pela limpeza do vento, pelos actos de pureza,
Pela alegria, pelo vinho, pela música, pela dança,
Pela branda melodia do rumor dos regatos,

Pelo fulgor do estio, pelo azul do claro dia,
Pelas flores que esmaltam os campos, pelo sossego dos pastos,
Pela exactidão das rosas, pela Sabedoria,
Pelas pérolas que gotejam dos olhos dos amantes,
Pelos prodígios que são verdadeiros nos sonhos,
Pelo amor, pela liberdade, pelas coisas radiantes,
Pelos aromas maduros de suaves outonos,
Pela futura manhã dos grandes transparentes,
Pelas entranhas maternas e fecundas da terra,
Pelas lágrimas das mães a quem nuvens sangrentas
Arrebatam os filhos para a torpeza da guerra,
Eu te conjuro ó paz, eu te invoco ó benigna,
Ó Santa, ó talismã contra a indústria feroz.
Com tuas mãos que abatem as bandeiras da ira,
Com o teu esconjuro da bomba e do algoz,
Abre as portas da História,
deixa passar a Vida!"

Natália Correia, in "Inéditos (1985/1990)"