14 de junho de 2014

Para lá de muito longe




Seria um dia como qualquer outro, não fora nada se passar de importante. O tempo, as árvores, as gentes, tudo parecia igual: era um dia mais, ou menos, conforme o ponto de vista – e que diferença faria!

Na aparente quietude, um gesto, um sorriso, um olhar, algo que pudesse fazer a diferença, nada: em vão a procura, a impaciência do murmúrio ou o total silêncio, o arrepio face ao imprevisto… (afinal, não era outro dia?!) nada.

Preparado para enganar o devir, instalado no espanto e na incerteza, dei por mim a pensar que, enfim, algo poderia acontecer nesse dia e eu, ainda mais espantado, podia ser parte do acontecimento: bastaria regressar de onde andava, estar no momento que me passava ao lado, fazer perto de mim o longe da ausência… e ser."

Joaquim do Carmo in "Nas Entrelinhas do Tempo" (a publicar)
Foto: Reprodução de quadro de Salvador Dali