28 de maio de 2010

um momento... para ser!

Quis partir, manhã cedo, com o vento abanando as árvores, estremunhadas, quase sonâmbulas, à procura da calma que havia perdido, há tanto tempo, por entre o bulício da cidade!

Já não cabia em si qualquer espaço para falar consigo mesmo, a mais ínfima reserva de privacidade que, qual gota de água em boca sequiosa, tanta falta lhe fazia!

As tardes de Francisca, jardins por onde, antes, desabrochavam as mais belas e, para ela, encantadoras melodias à vida, às palavras, ao sonho e, quanta saudade, ao amor, foram-se tornando áridas, desertas de qualquer oportunidade de crescimento, realização interior, abertura ao desconhecido, espaço de infinitude ou janela aberta para o desafio.

De nada valiam, agora, protestadas amizades e insuspeitas manifestações de carinho por parte dos resistentes que, invariavelmente, batiam à sua porta e, apesar da indiferença, insistiam em vir, dia após dia, marcar presença a seu lado, esperança desvanecendo-se de cada vez que a única resposta era o desejo de fugir, desaparecer, “voar”!

Desta vez, o dia seria mesmo aquele novo despertar que tanto ansiava; a curva da estrada não seria mais obstáculo intransponível, barreira que a sua fraca coragem a tinha impedido de ultrapassar.

Decidida a enfrentar-se e aos seus medos, a permitir-se o risco, Francisca iniciou o assalto ao desconhecido: soltas as amarras, velas desfraldadas, qual caravela em aventura mar adentro, deixou-se levar por esse vento madrugador, impetuoso e companheiro amigo para a viagem por demais adiada.

Partia em busca do sítio remanso que, noite após noite, habitava seus sonhos inquietos e vazios: haveria que trazer, de novo, brilho aos seus dias, agora tão sombrios e confusos; haveria que recuperar para si aquela alegria que transfigurava os seus olhos, agora tristes e, tantas vezes, ninho de lágrimas, em rios de cristalina e contagiosa felicidade; haveria que reinventar o calor de suas fiéis e desinteressadas amizades e o carinho revigorante de suas paixões mais sinceras.


Haveria, sim!... Afinal, aquilo que, até então, parecia tão difícil e inatingível, tornara-se realidade inadiável: ali mesmo, ao virar da esquina, desperta pelo vento forte dessa manhã, Francisca descobrira que a sonhada viagem não passaria de um gesto de seu querer mais profundo, um salto, arriscado, talvez, mas decisivo, sobre o abismo que, do alto de sua tristeza e melancolia, construíra ao seu redor, afastando-a dos que tanto lhe queriam e, pior que tudo, de si própria e da sua força de viver! Haverá... que encontrar-se!


Fotos: Google Imagens

22 de maio de 2010

incandescências





Eis o que eu aprendi
nesses vales
onde se afundam os poentes:
afinal, tudo são luzes
e a gente se acende é nos outros.

A vida é um fogo,
nós somos suas breves incandescências.


in "Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra", de Mia Couto







Foto: Google Imagens
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17 de maio de 2010

desilusão


quando te vi, não quisera
ver-te, embora o desejasse:
quão bom era estar à espera
mas, melhor fora não esperasse!


sei que água não conhecera
que tanta mágoa lavasse
mas, logo, à fonte correra,
se meu coração deixasse!


quis ele, antes, que a quimera,
sonho lindo, em mim, sonhasse,
mesmo morta a confiança:


s' inda em tal dia soubera
amares-me, se eu te amasse,
reviveria uma esperança!


Foto: Google imagens

15 de maio de 2010

mais alto

Árvores do monte
que o alto apontais,
é belo, infinito,
o que nos mostrais.


Subis, subis sempre,
sem nunca parar,
ao longínquo céu
volvendo o olhar.


E eu, tão pequeno,
ao mirar o alto
sinto, na minh' alma
um tal sobressalto


que me lembro, árvores,
da vossa lição;
nela penso e rogo,
do meu coração:


bem alto subir,
sem um desalento,
fazei, Deus, ser sempre
meu maior intento!


Foto: "Long way up", in Olhares da Gui (http://olhares.aeiou.pt/GuiOliveira)


13 de maio de 2010

AVÉ MARIA



MÃE SANTÍSSIMA
BENDITA SEJAS
ENTRE TODAS AS MULHERES!
E BENDITO SEJA 
O FRUTO DO TEU VENTRE
JESUS!

AVÉ MARIA, CHEIA DE GRAÇA, O SENHOR ESTÁ CONTIGO!
rogai por nós, teus filhos, pecadores, em busca da redenção


12 de maio de 2010

Fátima, terra de fé



Mãe Santíssima
rogai por nós, todos:
os que crêem,
os que não crêem,
os que não sabem ou têm dúvidas
e, especialmente, os que têm certezas!

9 de maio de 2010

mulher, mãe, ANJO!

eu sou o seu anjo!


eu serei sua nuvem
acima do céu
eu serei seu ombro
quando você chorar
eu ouvirei sua voz
quando me chamar

Eu sou seu ANJO

8 de maio de 2010

mulher-viva

Não me procures ali
onde os vivos visitam
os chamados mortos.
Procura-me dentro das grandes águas.
Nas praças,
num fogo coração,
entre cavalos, cães,
nos arrozais, no arroio,
ou junto aos pássaros
ou espelhada num outro alguém,
subindo um duro caminho.

Pedra, semente, sal passos da vida.
Procura-me ali.
Viva
Hilda Hilst 




Mulher-Vida
ETERNIDADE


sempre à espera, sempre presente, sempre viva
DISPONIBILIDADE


entrega, doação, amor, dedicação
GENEROSIDADE

7 de maio de 2010

maria (nome: MULHER)


maria,
nascida no monte
à beira da estrada
maria,
bebida na fonte
nas ervas criada
talvez que maria se espante
de ser tão louvada
mas não
quem por ela se prende
de a ver tão prendada



maria,
nascida no trevo
criada no trigo
maria,
quisera que o trevo
casara comigo
prouvera a maria, sem medo,
crer no que lhe digo
maria
nascida no trevo
beiral de mendigo





maria
de todas primeira
de todas menina
maria
quisera a cigana
ler a tua sina
não sei, se deveras se engana
quem demais se afina
maria
sol da madrugada
flor de tangerina


Poema do cancioneiro popular português







Fotos: Google Imagens

6 de maio de 2010

auto-retrato


Espáduas brancas palpitantes:
asas no exílio de um corpo.
Os braços calhas cintilantes
para o comboio da alma.
E os olhos emigrantes
no navio da pálpebra
encalhado em renúncia ou cobardia.
Por vezes fêmea. Por vezes monja.
Conforme a noite. Conforme o dia.
Molusco. Esponja
embebida num filtro de magia.
Aranha de ouro
presa na teia dos seus ardis.
E aos pés um coração de louça
quebrado em jogos infantis.

  Natália Correia, "Poesia Completa" (1999) 
  Foto: Olhares da Ju ( http://olhares.aeiou.pt/juaninha8 )
  

5 de maio de 2010

mulheres maravilhosas


A mãe e o pai estavam assistindo televisão, quando a mãe disse:
- Estou cansada e já é tarde, vou-me deitar!

Foi à cozinha fazer uns sanduiches para o lanche do dia seguinte na escola,
passou uma água nas taças das pipocas,
tirou carne do freezer para o jantar do dia seguinte,
confirmou se as caixas dos cereais não estavam vazias,
encheu o açucareiro, pôs talheres na mesa e preparou a cafeteira do café
para estar pronta a ligar no dia seguinte, pôs ainda umas roupas na máquina de lavar, passou uma camisa a ferro e pregou um botão que estava caindo.

Guardou umas peças do jogo que ficaram em cima da mesa e pôs a agenda do telefone no lugar.

Regou as plantas, despejou o lixo e pendurou uma toalha para secar.
Bocejou, espreguiçou-se e foi para o quarto.

Parou ainda no escritório e escreveu uma nota para o professor do filho, pôs num envelope junto com o dinheiro para pagamento de uma visita de estudo e apanhou um caderno que estava caído debaixo da cadeira.

Assinou um cartão de aniversário
para uma amiga,
selou o envelope e fez uma pequena lista para o supermercado.

 Colocou ambos perto da carteira.

Nessa altura o pai disse lá da sala:
- Pensei que você tinha ido se deitar!
- Estou a caminho, respondeu ela!

Pôs água na tigela do cão e chamou o gato para dentro de casa.
Certificou-se de que as portas estavam fechadas.
Espreitou para o quarto de cada um dos filhos, apagou a luz do corredor, pendurou uma camisa, atirou umas meias para o cesto da roupa suja e conversou um bocadinho com o mais velho que ainda estava estudando.

Já no quarto, acertou o despertador, preparou a roupa para o dia seguinte, e arrumou os sapatos.

Depois lavou o rosto, passou creme,
escovou os dentes e acertou uma unha quebrada.

A essa altura, o pai desligou a televisão e disse:
- Vou-me deitar!
E foi... sem mais nada!

Notaram aqui alguma coisa de extraordinário?
Ainda perguntam porque é que as mulheres vivem mais... e são tão MARAVILHOSAS?

PORQUE SÃO MAIS FORTES... FEITAS PARA RESISTIR...

Carlos Drummond de Andrade


Fotos: Google Imagens

4 de maio de 2010

segredo (alma feminina)

Não contes do meu
vestido
que tiro pela cabeça

nem que corro os
cortinados
para uma sombra mais espessa

Deixa que feche o
anel
em redor do teu pescoço
com a minhas longas
pernas
e a sombra do meu poço

Não contes do meu
novelo
nem da roca de fiar

nem o que faço
com eles
a fim de te ouvir gritar

maria teresa horta in "Minha Senhora de Mim", 1972




Foto: Google Imagens

3 de maio de 2010

retrato de mulher


Algo de cereal e de campestre
Algo de simples em sua claridade
Algo sorri em sua austeridade

Sophia de Mello Breyner Andresen in "O nome das coisas" (1977)



2 de maio de 2010

mãezinha

Mãezinha, ó meu amor,
Mãezinha, dom do Senhor,
Fica comigo para toda a vida!

Os teus olhos, ó mãezinha,
São brilhantes, mais que o céu;
Quanta inveja, o Sol, sustenta
Num olhar teu!

As tuas mãos, ó mãezinha
São ternura, suave calor:
Se me embalas, em teu peito
Respiro amor!

Teu sorriso, ó mãezinha
Minha vida ilumina;
Meu caminho, junto a ti,
É doce sina!

Os meus versos, ó mãezinha,
São amor, mais que trovar:
Sou feliz por ter-te minha,
Por ti cantar!


Foto: Google Imagens

1 de maio de 2010

MAMÃ

Teus olhos,
Teu sorriso
MAMÃ, teus cabelos ao vento,
Teus braços,
Berço feito,
Teus cuidados,
MAMÃ,
Ternura, Carinho, Amor,
MAMÃ,
Tu, minha vida,
És tudo para mim!


Porque te tenho,
MAMÃ,
Sou,
Sou feliz,
Sou o ser mais rico do mundo!
Sim, MAMÃ!




Fotos: Imagens Google