31 de março de 2012

Estrela mensageira



Canta, meu coração,

Canta sem fim!

Livre, espalha

Nas asas do vento

Suave

A voz que gritas em mim:

Vem estrelinha, vem,

Sê mensageira,

Leva ao meu bem,

Numa carícia,

Num beijo doce,

Palpitante,

Toda a força que tem

O meu amor,

Mesmo distante,

Feliz, porém,

De achar um ninho,

De sentir, bem vivos,

Ternura e carinho,

Todo o calor

Que meu ser mendiga!

Estende tua mão brilhante

E, generosa,

Toma meu peito,

Sacrário de amor feito:

Pousa-o na rosa

Mais bela, a Formosa

Musa de meus versos

E… enlaça nossos braços!

Joaquim do Carmo

21 de março de 2012

Canto primaveril



Sobre o azul do céu,
Ainda vacilante
Nasce o sol, desperto,
Em seu trono brilhante.

No verde escondido
Pintalga de estrelas,
Pontos fluorescentes,
A minha janela.

Bem seguro ao bico
De andorinha amiga,
Alegre e saltitante,
P’los ramos das árvores

Canta-me ao ouvido,
Como se em segredo,
Em versos de luz:
Vem, é Primavera!

Joaquim do Carmo
Foto: Google Imagens

19 de março de 2012

Pai Amor Saudade



Cedo demais, Pai,
Nos morreste!
Cedo demais, amigo,
Nos deixaste!
Cedo demais…

Pai, amigo, companheiro
Te perdemos!
E à tua luz, nosso farol,
Tua palavra certa, sempre atenta,
Tua mão segura e carinhosa!

Amor presença,
Amor cuidado,
Amor ternura,
Amor verdade,
Amor…
… saudade:
Do teu olhar, Pai,
Do teu sorriso, Amigo,
Do teu amor, Companheiro!
Da tua Vida, Pai… saudade!

Joaquim do Carmo

Foto da Rita (http://olhares.sapo.pt/foto1958339.html)

9 de março de 2012

Algumas reflexões sobre a Mulher – Eugénio de Andrade



Elas são as mães:
rompem do inferno, furam a treva,
arrastando
os seus mantos na poeira das estrelas.

Animais sonâmbulos,
dormem nos rios, na raiz do pão.

Na vulva sombria
é onde fazem o lume:
ali têm casa.
Em segredo, escondem
o latir lancinante dos seus cães.

Nos olhos, o relâmpago
negro do frio.

Longamente bebem
o silencio
nas próprias mãos.

O olhar
desafia as aves:
o seu voo é mais fundo.

Sobre si se debruçam
a escutar
os passos do crepúsculo.

Despem-se ao espelho
para entrarem
nas águas da sombra.

É quando dançam que todos os caminhos
levam ao mar.

São elas que fabricam o mel,
o aroma do luar,
o branco da rosa.

Quando o galo canta
Desprendem-se
para serem orvalho.

Eugénio de Andrade

Foto “Enlightened”, da Joana

1 de março de 2012

“Sim, quero!”



O dia amanhecera chuvoso, quase ameaçando tempestade. A noiva, tão linda que era, mesmo não precisando, tinha marcação no cabeleireiro e, sem dúvida, ainda brilharia mais com seus olhos verdes de princesa primaveril! A manhã foi longa, arrastou-se por entre tímidos assomos do sol até à hora da cerimónia.
Junto do altar, naqueles minutos de espera, tão breves mas, tão longos, os momentos felizes e marcantes do seu namoro tão lindo ali, presentes, vivos: a primeira troca de olhares, tímidos, meio envergonhados mas profundos, daqueles que marcam para a vida; os primeiros passeios, às escondidas, mãos entrelaçadas em recantos de jardim; os segredos apaixonados, as promessas de amor eterno, os sonhos partilhados, os anseios e as dúvidas, as dolorosas saudades nas separações a que as voltas da vida já haviam obrigado, os raros arrufos de amor, os primeiros beijos e abraços, a sede de entrega plena, os projectos que se começaram a construir a dois… um filme, qual conto de fadas, passando apressado à sua frente, ali mesmo!
Finalmente, a visão mais ansiada: ao fundo da igreja, a noiva, encantadora, deslizando feliz no seu vestido de princesa, com os sobrinhos do noivo de meninos das alianças a segurar-lhe o véu longo e, tão brevemente, o sonho há tanto acarinhado, realizado: “Sim, quero!”… “Sim, quero!”… e, para a vida toda, toda uma vida em mútua doação!
Passaram trinta e sete anos! Hoje, num raro olhar para trás, seriam muitas as bobines necessárias para reproduzir, como em filme, todos os momentos conquistados nesta caminhada, os melhores, os menos bons, os piores – na vida a dois cada dia, todos os dias, um novo desafio, um repetido apelo à renovação dos votos: em cada filho, em cada conquista, em cada dificuldade, em cada perda… sempre novas oportunidades para recomeçar, como se fosse o primeiro dia, como se pudesse ser o último!
Passaram trinta e sete anos e, como o primeiro dia, este dia é único e irrepetível: como em cada manhã desta vida partilhada contigo, hoje é dia de dizer, com a mesma força, com mais força ainda, se possível:
“Sim, quero!”… “Sim, quero!”… ainda e sempre!

Foto “Entrelaçadas”, da Joana