4 de setembro de 2015

Nas Entrelinhas do Tempo (fragmento)


"(...) No firmamento aparecia a estrela da tarde, piscando o olho à lua, em crescendo, jogando às escondidas com a luz do poente, alaranjada e serena, cedendo o caminho, cansada, a novos passageiros celestiais: outras vidas, outras crenças, outras luzes, outros cantos… a calma da noite rompendo do espaço, tão imponente como o dia se instalando, agora, por outras paragens, senhora dos silêncios reconfortantes, colo para os coaxares refrescantes no leito dos pântanos ou margens das lagoas: as rãs estavam lá, bem perto da tarde esquecida, lembrando-lhe o seu fim, condição de perenidade... "

Joaquim do Carmo
Excerto de conto a publicar no "Nas entrelinhas do tempo"
Imagem: Van Gogh, "The Starry Night"

20 de agosto de 2015

Nas Entrelinhas do Tempo (fragmento)



"... O rio, de águas cristalinas, mostrava-se paciente e submisso às pancadas, mais ou menos violentas com que as lavadeiras, com as peças de roupa maiores, agitavam a corrente. A meio da encosta verdejante, da boca de uma mina que lhe dava o nome, ele assomava à luz do dia, sonolento, a espreguiçar-se pelo vale, indiferente às voltas a que seria obrigado para alimentar o lavadouro público. (...)"

Joaquim do Carmo (excerto de um conto a publicar no livro "Nas Entrelinhas do Tempo"

Imagem do quadro de Vincent van Gogh, "By the Seine"

7 de agosto de 2015

Chamar teu nome...


Chamar teu nome, olhar os olhos teus,
Amor de sempre, bela flor de mar,
É terno ensejo, uma bênção dos céus,
 Qual melodia, ditoso cantar!

Beijar teus lábios, colados aos meus,
Contigo, inteira, os dias partilhar,
Calar o tempo, sem fim nem adeus,
É nobre dita, destino sem par!

Anos e anos passados, enfim,
Os nossos passos testemunham quanto
Amor, sincero, nos mantém assim:

Nos dias todos, grávidos de espanto,
Do alvor ao sol-pôr, o teu e o meu sim
Gritam, da vida, o seu mais doce encanto!

Joaquim do Carmo

Imagem: Tim Parker, Abstract Figure Painting 2010