São muito raros os meus 'intervalos', na rotina de dias cansados e, mesmo assim, felizes, com que a vida me tem presenteado! Nesses momentos, descansados e despretensiosos, o papel joga ao esconde-esconde com a pena, um jogo intermitente que, não fora a persistência da pena
- ou será do 'esconderijo'?! Não sei mas... também não vem para o caso! -
sim, persistência, o papel jamais mudaria de aspecto, tão pálido tem andado há demasiado tempo! E aquela indecisão no alinhar das palavras, poesia, prosa, coisa nenhuma... bem, hoje, como tantas outras vezes, só Sophia para me ajudar a escalar a 'Montanha'!
E partilho-a convosco:
"MONTANHA
Vi países de pedras e de rios
Onde nuvens escuras como aranhas
Roem o perfil roxo das montanhas
Entre poentes cor-de-rosa e frios
Transbordante passei entre as imagens
Excessivas das terras e dos céus
Mergulhando no corpo desse deus
Que se oferece, como um beijo, nas paisagens."
Sophia de Mello Breyner Andresen, "Poemas escolhidos"
Imagem: Quadro: Ravine, de Vincent van Gogh, 1889
Joaquim do Carmo