10 de março de 2010

a mão no arado

Feliz aquele que administra sabiamente
a tristeza e aprende a reparti-la pelos dias
Podem passar os meses e os anos nunca lhe faltará

Oh! como é triste envelhecer à porta
entretecer nas mãos um coração tardio
Oh! como é triste arriscar em humanos regressos
o equilíbrio azul das extremas manhãs do verão
ao longo do mar transbordante de nós
no demorado adeus da nossa condição
É triste no jardim a solidão do sol
vê-lo desde o rumor e as casas da cidade
até uma vaga promessa de rio
e a pequenina vida que se concede às unhas
Mais triste é termos de nascer e morrer
e haver árvores ao fim da rua


É triste ir pela vida como quem
regressa e entrar humildemente por engano pela morte dentro
É triste no outono concluir
que era o verão a única estação
Passou o solidário vento e não o conhecemos
e não soubemos ir até ao fundo da verdura
como rios que sabem onde encontrar o mar
e com que pontes com que ruas com que gentes com que montes conviver
através de palavras de uma água para sempre dita
Mas o mais triste é recordar os gestos de amanhã

Triste é comprar castanhas depois da tourada
entre o fumo e o domingo na tarde de novembro
e ter como futuro o asfalto e muita gente
e atrás a vida sem nenhuma infância
revendo tudo isto algum tempo depois
A tarde morre pelos dias fora


É muito triste andar por entre Deus ausente
Mas, ó poeta, administra a tristeza sabiamente

ruy belo (S. João da Ribeira, Rio Maior, 1933-1978)
Fotos da Gui

8 comentários:

_Sentido!... disse...

Excelente escolha Quicas!
Ruy Belo, gosto dele!

Deixa-me deixar-te outro dele que acho de grande significado, também!

"Contigo aprendi coisas tão simples como
a forma de convívio com o meu cabelo ralo
e a diversa cor que há nos olhos das pessoas
Só tu me acompanhastes súbitos momentos
quando tudo ruía ao meu redor
e me sentia só e no cabo do mundo
Contigo fui cruel no dia a dia
mais que mulher tu és já a minha única viúva
Não posso dar-te mais do te dou
este molhado olhar de homem que morre
e se comove ao ver-te assim presente tão subitamente"

Grata pelo carinho da tua visita.
Abraço

Joaquim do Carmo disse...

Obrigado, eu, Delírius, pela visita, pelo poema retribuído - carinho também.
Abraço

Zaza Lombardi disse...

Ola...
Mais triste é termos de nascer e morrer.
Essa é uma verdade,que não podemos mudar.
Belissimo poema.
Um abraço.

MA disse...

Buenas noche quicas ,hoy nuestros poemas de entradas de blog ,son tristes y melancólicos y también hermosos en sentimientos de amor , la vida es a si unas veces nos da alegrías y otras penas .... afortunadamente este poema mio es un inspiración de las musa del sentimiento.

Un abrazo de MA y gracias por tu visita

Chris B. disse...

Teus posts são emocionantes meu amigo. Imagens, palavras músicas... tudo.

Obrigada por tudo!!!
Meu blog está em manutenção e teu comentário guardado para ser publicado. Muito obrigada pelas palavras amigas, em especial a de hoje que me pegou pelas mãos!
Somente a sábia experiência disso.

Beijo com carinho, amizade e todo respeito meu amigo.

Anónimo disse...

Vim te deixar o meu beijo meu grande amigo.
Gostei da simplicidade do poema.
Parabéns poeta.
Um beijo grande.

Valquíria Calado disse...

É muito triste andar por entre Deus ausente Mas, ó poeta, administra a tristeza sabiamente
*
POrque poeta esta triste?
acaso ñ sabes o quanto és querido?
*
Feliz aquele que administra sabiamente
a tristeza e aprende a reparti-la pelos dias
Podem passar os meses e os anos nunca lhe faltará
*
gaste-a hoje amanhã sorria
ñ economize em alegrias,sonhos e esperanças,♥ beijos no ♥

Chris B. disse...

quicas,

Desejo que teu dia seja lindo, assim... como é lindo o modo como guia as palavras com sabedoria quando nos escreve, fazendo de um pequeno instante um grande momento..

Um beijo com amizade e carinho na Alma.