19 de janeiro de 2011

Eugénio de Andrade - "As palavras"


São como um cristal,

as palavras.

Algumas, um punhal,

um incêndio.

Outras,

orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.

Inseguras navegam:

barcos ou beijos,

as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,

leves.

Tecidas são de luz

e são a noite.

E mesmo pálidas

verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem

as recolhe, assim,

cruéis, desfeitas,

nas suas conchas puras?

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O poeta Eugénio de Andrade morreu a 13 de Junho de 2005, no Porto, aos 82 anos, vítima de doença prolongada.

O poeta morreu às 03h30, em sua casa, no Porto. Eugénio de Andrade, pseudónimo de José Fontinhas, nasceu a 19 de Janeiro de 1923 na Póvoa de Atalaia, Fundão, região da Beira Baixa, fixando-se em Lisboa em 1932 com a mãe.

Viveu no Porto desde 1950, onde criou a fundação com o seu nome.

A sua obra poética e em prosa foi já inúmeras vezes premiada e está traduzida para alemão, asturiano, castelhano, catalão, chinês, francês, italiano, inglês, jugoslavo e russo.

Fotos: Imagens Google

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