25 de fevereiro de 2018

Hoje é Domingo e... a contagem continua!


SONETO

Amor desta tarde que arrefeceu 
as mãos e os olhos que te dei; 
amor exacto, vivo, desenhado 
a fogo, onde eu próprio me queimei; 

amor que me destrói e destruiu 
a fria arquitectura desta tarde 
– só a ti canto, que nem eu já sei 
outra forma de ser e de encontrar-me. 

Só a ti canto que não há razão 
para que o frio que me queima os olhos 
me trespasse e me suba ao coração; 

só a ti canto, que não há desastre 
de onde não possa ainda erguer-me 
para encontrar de novo a tua face. 


© EUGéNIO DE ANDRADE 
In Os Amantes sem Dinheiro, 1950

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