Era de sonho a visão de seus cabelos, soltos ao vento,
deslizando suavemente pela praia, o mar brilhando nos seus olhos, ao som dos
alegres e estridentes gritos das gaivotas em voos rasantes, anunciando o fim da
tarde!
Era doce o olhar que lhe lançava quando, embevecido,
parava no tempo e pedia que esse presente se eternizasse e, pleno de
felicidade, ganhasse o amanhã de cada dia de suas vidas!
Era terna melodia o som da sua voz quando, às suas juras
de amor, respondia, com matreiro e deleitado sorriso, “meu doce mentiroso”!
Era de luz o rasto que deixava, caminhando ao luar, nas
quentes noites de Agosto!
Era um hino ao amor cada momento de ternura e carinho,
cada beijo, cada encontro, ansiado como se fosse o último, vivido sempre intensamente
como se o primeiro!
Qual
conto de fadas, história de encantar a que ninguém augurava longa vida, talvez
só pelo sentimento de inveja que despertavam, sempre bem juntinhos, mãos dadas
desafiando o futuro, o incerto, toda e qualquer contrariedade, felizes, sorriam
a cada amanhecer com a alegria de mais um dia para crescer no amor, unidos no
propósito de construir o sonhado ninho, secreto aconchego para os filhos que se
prometiam e coloriam de fantasia os longos passeios pela cidade, imaginando como
vesti-los, calçá-los, mimá-los, príncipes encantados desse reino em construção!
Uma
casa solarenga? Um castelo? Um palácio? Talvez! O que fosse… não importava: era
a certeza de que, passo a passo, pedra sobre pedra içada, a pulso, do empedrado
de cada dia, conquista atrás de conquista, com dificuldades, muitas também,
fraquezas tornadas força para a luta seguinte, o caminho apenas se faria
caminhando!
Encanto
partilhado, uma festa permanente, uma celebração constante do amor enfim, o
sonho ia ganhando vida a cada dia e, naquele dia, aquele fim de tarde, já de
sonho o tempo todo, veria consumar-se a entrega total, há muito prometida, há
tanto desejada!
Como
tudo o que começa, nova descoberta a cada carícia, foi suave o toque e
delicado, pétala a pétala da bela flor se abrindo, a um tempo generosa e ávida,
até deixar de se perceber o começo ou fim dos seus corpos enlaçados, tão unidos
e esquecidos de cada qual que, naquele momento então eternizado, se sentiram
verdadeiramente um só no amor!
Um
momento, apenas, do que se tornaria entrega de uma vida… inteira!
Joaquim do
Carmo
Imagem: Pintura de Nadir Afonso
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