13 de abril de 2020

Sétimo aniversário do "Amanhecer pelo fim da tarde"!



"Reverso do tempo

As páginas revolvem-se, impacientes,
quando sentem distante o calor dos dedos,
eternos prisioneiros da pena.

Passam-se tantas coisas nos intervalos dos dias!

Pautam-se incontáveis linhas
no recôndito das manhãs
e, a cada momento, quais campainhas desafinadas,
as palavras ainda não escritas ecoam nos ouvidos,
teimosas, suplicando a sua afirmação.

Percorridos os minutos,
ébrios de todo e cada segundo já sorvidos,
em catadupa,
até ao sobressalto da frase capaz de traduzi-los,
eis se revelam,
em redemoinhos de letras,
gota a gota,
sobre a brancura inocente.

Na confusão das emoções,
pressentidas, mas jamais ressentidas,
as linhas preenchem-se, construindo-se
na sombra das que as precederam,
já saciadas de tempo!

Presente, só aquele instante,
distraído de sua plenitude,
no verso da página gravada de véspera… "

Joaquim do Carmo
Reeditado de "Amanhecer pelo fim da tarde", Abril de 2013

1 comentário:

Canto da Boca disse...

Passa-se uma vida no intervalo dos dedos, imagine então "nos intervalos dos dias".
O que permanece é o talento do poeta em cada texto escrito.

Belo poema, Quicas, como sempre!

Cumprimentos, boa semana!

:)