8 de fevereiro de 2010

o desencanto

Era um homem que nunca tivera ocasião de contemplar o mar. Vivia numa aldeia do interior da Índia. Uma ideia instalara-se com firmeza na sua mente: não podia morrer sem ver o mar.

Para poupar algum dinheiro e poder viajar até à costa, arranjou outro trabalho além do seu emprego habitual. Poupava tudo o que podia e suspirava pelo dia em que ia poder estar perante o oceano. Foram anos difíceis mas, finalmente, poupara o suficiente para fazer a viagem. Apanhou um comboio que o levou até perto do mar. Sentia-se entusiasmado e pleno.

Chegou à praia e observou o maravilhoso espectáculo. Que ondas tão bonitas! Que espuma tão branca e tão formosa! Que água tão azulada e tão bela! Aproximou-se da água, apanhou um pouco na concavidade da sua mão e levou aos lábios para degustá-la. Então, desencantado e abatido, disse para si próprio: "Que pena que saiba tão mal, sendo tão bonita!"

Conto indiano in "Os melhores contos espirituais do oriente", de Ramiro Calle
Foto: "Ragging Waters" da Ju

4 comentários:

Valquíria Calado disse...

POIS...QUE DESENCANTO.
FANTASIAR SITUAÇÕES SABEMOS FAZER
DIFICIL É ENCONTRAR NO DESENCANTO
COISAS FAVORAVEIS, TRANSFORMAR DECEPÇÕES EM BENÇÃOS.
ABRÇS

Ricardo e Regina Calmon disse...

Voce é o que escreve!Meu bom Escriba ,pura alegria te-lo em campos meus de girassois!

te abraço poeta!

VIVA LA VIDA

Joaquim do Carmo disse...

... ou rosas, senhor, ou rosas (que eu tenho alguns espinhos...!)

Aliás, abraços, Ricardo amigo

_Sentido!... disse...

Fiquei sorrindo....
... eu que sou amante do Mar e de aMar, e da sua agua salgada, que adoro saborear!...
Mas na verdade por vezes o realizar de um sonho vira mesmo desencanto.
Obrigada por tuas visitas no meu canto.
Beijo.