24 de janeiro de 2020

Quadras de ontem



Passeei minhas letras, alegre, ao acaso
Nas ruas que os seus olhos doces iluminam,
Brinquei com as palavras já fora de prazo,
Sem sucesso, tentei saber o que me ensinam!

A sonhei primavera, flor cheirosa e pura
De cores tão brilhantes que meus olhos fascinam!
Bebi, de seus beijos, a indelével doçura,
Senti, quão suaves, mãos que me acariciam!

Descansei meus dedos, após tal caminhada,
Pelos seus cabelos soltos, livres, ao vento,
Incansáveis viajantes na infinda jornada,
Firmes sentinelas junto ao seu pensamento!

Sorri desperto à lua, sempre vigilante,
Fiel testemunha do nosso eterno amor
E, por entre as estrelas, caminho adiante,
Pressenti, assustado, pressuroso alvor!

Bem quis então ficar, qual amante perdido
Rendido às carícias da amada, eternamente
Nessa louca viagem, roteiro fingido
Que hoje, amargos dias, a vida só desmente;

Aprender, da verdade, pelas entrelinhas,
As palavras certas, com sílabas perfeitas,
P’ra poder descrever tais momentos, as minhas
Emoções e alegrias, sem dor nem suspeitas;

Tal sonho, porém, novo dia interrompeu,
Com o sol a mentir-me através da janela:
Nem o quente sorriso, sua luz me deu,
Nem voz macia, a sua, me trouxe com ela!

Só me deixou saudade de auroras distantes,
A tristeza da ausência e solidão sentidas,
Um silêncio que é grito ingente quanto antes
Eram melodias de paixão preenchidas!

Joaquim do Carmo
© (direitos reservados)
Imagem: Pintura de Nadir Afonso

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